Stefan Zweig, um grande humanista

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Na quinta-feira, 16/7, Alberto Dines e Kristina Michahelles participam do lançamento do livro A rede de amigos de Stefan Zweig: sua última agenda, 1940-1942 no auditório da Fundação Rosa Luxemburgo com o apoio do Goethe-Institut São Paulo.
O livro contém o fac-símile integral da última agenda telefônica de Stefan Zweig, preenchida pelo autor entre 1940 e 1942 e mantida inédita até hoje. Traz ainda biografias e verbetes dos 158 nomes de pessoas e instituições em uma edição ilustrada.
Conforme nos conta o organizador Israel Beloch sobre o processo de elaboração da obra: “Alberto Dines, um dos maiores especialistas mundiais na vida e na obra do autor austríaco, há muito planejara publicar uma reprodução desse livrinho, enriquecida pelas biografias de cada um de seus 158 figurantes. Quando a Casa Stefan Zweig, recém-fundada, começou a se consolidar, chegou o momento de lançar mãos à obra. (…) Se alguns nomes registrados são verdadeiros ícones da cultura, como Thomas Mann e Arturo Toscanini, outros são menos notórios e mesmo obscuros. O profundo conhecimento de Alberto Dines e a obsessão investigativa da equipe permitiram desvendar a identidade de quase toda a rede de amigos de Zweig, sobrando umas poucas incógnitas para os pesquisadores do futuro”.
Kristina Michahelles, que participou das etapas de pesquisa e produção de texto para a obra, também estará presente para o lançamento. Ela já traduziu mais de 30 livros do alemão para o português, entre os quais dos autores Stefan Zweig, Thomas Mann, Pascal Mercier, Siegfried Lenz e Sigmund Freud.
O evento propõe uma continuidade ao debate iniciado em maio na Fundação Rosa Luxemburgo, com o título “Arte como refúgio e esperança – a contribuição dos refugiados judeus alemães nas artes em São Paulo”, que teve as presenças da Dra. Marlen Eckl e comentário poeta Paulo Ferraz.
Na ocasião, também será relançada a autobiografia de Zweig O mundo de ontem – memórias de um europeu, traduzido por Kristina Michahelles e editado pela Zahar.

 
 
 
Lançamento dos livros A rede de amigos de Stefan Zweig: sua última agenda, 1940-1942 e Stefan Zweig, Autobiografia: o mundo de ontem com presenças de Alberto Dines e Kristina Michahelles.
Data: 16/07/2015, quinta-feira, às 19h
Local: Auditório da Fundação Rosa Luxemburgo. R. Ferreira de Araújo, 36 – Pinheiros, São Paulo (SP). Entrada franca. Tel.: (11) 3796-9901.
Livros à venda: A Editora Zahar levará os livros de seu catálogo sobre/de Stefan Zweig para o evento. O livro A rede de amigos de Stefan Zweig será vendido por R$ 40,00 (preço promocional – somente para esta publicação o pagamento deverá ser feito em cheque ou dinheiro).
Certificados: se você é estudante e deseja solicitar o certificado de presença, por favor, entre em contato com a Fundação Rosa Luxemburgo até o dia 24/06 ([email protected] ou 11 3796-9901).
 
 


 
 
O mundo de ontem num Telephone Book
Alberto Dines, Casa Stefan Zweig
 
Sempre objetivo, pragmático, Abrahão Koogan pareceu animado quando lhe contei que pretendia escrever uma biografia do seu mais famoso editado: “terei o maior prazer em conversar com você, o Zweig anda esquecido.”
Quem tinha pressa era eu: dentro de três anos transcorreria o centenário de seu nascimento (1981), e eu ainda não digerira inteiramente o magnífico livro de Donald Prater, European of Yesterday, a biography of Stefan Zweig, valioso paradigma de todas as biografias posteriores. Relia e anotava a primeira edição da obra completa de Zweig publicada por Koogan nos anos 30-40.
A Editora Guanabara há muito deixara a magnifica loja da Rua do Ouvidor onde Zweig estivera tantas vezes, agora instalada num velho prédio não muito longe, na Travessa do Ouvidor. Koogan me aguardava no escritório com algumas daquelas antigas caixas de papelão pardo destinadas ao que se chamava de “arquivo morto”.
Antes mesmo de falar começou a me estender maços de papeis, recortes, fotos, uma latinha com um filme em 8 milímetros e o Telephone Book, com encadernação imitando couro marrom, espiralado, em razoável estado: “Isso vai te interessar, o inglês não quis”.
O inglês, Donald Prater, anos antes passara alguns dias no Rio entrevistando Koogan para a sua obra precursora. Meticuloso pesquisador, não se interessou por aquela agenda de endereços, passara alguns anos mergulhado na leitura da vasta correspondência do biografado, tarefa colossal, evidentemente mais relevante. Dos tempos de repórter eu aprendera que uma agenda de endereços pode ser essencial para reconstruir vidas. Koogan percebeu meu interesse: “Vou tirar uma xerox”.
Tenho-a até hoje. Deve ter sido muito útil a Zweig. A mim – quase 40 anos depois – empurrou para o trabalho de campo, de rua e também para o telefone. Pendurado nele e nos catálogos de telefones recompus alguns momentos daquela vida. Alexander Graham Bell não pensou nesses atributos para o seu invento mas o Telephone Book me fez compreender a interação jornalismo-biografismo que o filólogo e crítico literário, Antonio Houaiss (amigo e colaborador de Koogan), já delineara quando lhe pedi para desfiar os segredos da boa biografia. “Não se preocupe”, aconselhou, “faça jornalismo”.
O Telephone Book deveria funcionar como um guia de sobrevivência no exílio, central de conexões com os dispersos. Se as cartas transatlânticas cruzassem no ritmo da correspondência intereuropeia pré-1939, a solidão petropolitana talvez não fosse sentida e a sensação de desamparo, menor.
O início das anotações para a autobiografia situa-se nas proximidades dos primeiros registros neste Telephone Book. Irmãos mas não gêmeos começaram em 1940, inseminados pela mesma premência e igual sensação de perda irreparável. Com plataformas, tecnologias e usos diversificados, são remanescentes do naufrágio do “mundo de ontem”.
Bagagem perdida e recuperada.