Formado em filosofia e teologia, escreveu 56 livros e recebeu mais de uma centena de títulos nacionais e internacionais. Entre suas obras mais conhecidas está «Brasil: nunca mais«, projeto conduzido de forma clandestina entre os anos de 1979 e 1985, que retrata as torturas e outras graves violações de direitos durante a ditadura militar. Tal ação ativa em defesa da democracia e sua proximidade com movimentos sociais o fizeram ficar conhecido como ‘o cardeal da esperança”. Foi bispo e arcebispo de São Paulo nos anos de 1960 e 1970. Ao assumir a Arquidiocese de São Paulo, em 1970, sua primeira ação foi vender a residência oficial do arcebispo para financiar terrenos para a construção de casas na periferia da cidade. Criou a Pastoral da Infância, com o apoio de sua irmã, Zilda Arns.
Em outubro, Dom Paulo foi homenageado no Teatro da Pontifícia Universidade Católica (Tuca), pelos seus 95 anos de vida, comemorados no dia 14 de setembro, e pela sua atuação política. A cerimônia foi marcada por relatos de ações de Arns contra a ditadura militar, nas décadas de 60 e 70, e em defesa dos direitos humanos. O papa Francisco enviou uma mensagem especialmente para a comemoração. Mais de uma dezena de personalidades, entre intelectuais, jornalistas, professores, líderes de movimentos sociais, juristas e religiosos, fizeram discursos em homenagem ao cardeal. Ele recebeu camisetas e bandeiras de movimentos sociais, como o Levante Popular da Juventude, a Democracia Corintiana, e posou para os fotógrafos com o boné do MST na cabeça.
João Pedro Stedile, do MST, disse que Arns serviu de guia aos movimentos sociais que surgiram no país nas últimas décadas. “A maioria dos movimentos que hoje existe, MST, MAB, Movimento dos Pequenos Agricultores, Comissão Pastoral da Terra, Cimi, nascemos orientados por vossa sabedoria, que pregava: em tempos de ditadura, Deus só ajuda quem se organiza. Então fomos nos organizar. Queremos agradecer de coração por tudo que o senhor fez nesses 95 anos, sobretudo porque o senhor ajudou a acabar com a ditadura militar no Brasil”, disse.
Já no final de sua vida, quando questionado como gostaria de ser lembrado, Arns respondeu: “como um amigo do povo”. E assim o será, um religioso que colocou sua prática para defender a população mais pobre e os direitos de todas as pessoas, principalmente aquelas oprimidas pela violência e pelo capitalismo.
Foto: Brasil de Fato