O livro “Calibã e a bruxa: mulheres, corpo e acumulação primitiva” da feminista italiana Silvia Federici foi traduzido colaborativamente pelo Coletivo Sycorax e publicado pela Editora Elefante com apoio da Fundação Rosa Luxemburgo
A autora, que atualmente leciona na Universidade de Hofstra, em Nova York, é uma das mais importantes teóricas do feminismo na atualidade, e em sua extensa pesquisa analisa, entre outros aspectos, o trabalho assalariado a partir de uma perspectiva de gênero. Nascida em Parma, na Itália, em 1942, vive nos Estados Unidos desde os anos 1960, onde participou ativamente do movimento contra a guerra e ajudou a fundar o Coletivo Feminista Internacional, que impulsionou a Campanha por um Salário para o Trabalho Doméstico. Nos anos 1980, Silvia passou uma temporada na Nigéria, onde lecionou na universidade de Port Harcourt, acompanhou o movimento de mulheres nigeriano e, ao ver de perto os resultados do ajuste estrutural patrocinado pelo Banco Mundial e pelo FMI sobre os estilos de vida comunitários do país, percebeu a atualidade das teses que expõe em “Calibã e a bruxa”.
Calibã e a bruxa
Mulheres, corpo, e acumulação primitiva
Silvia Federici
Faça o download do livro (pdf)
ISBN 978-85-93115-03-5
O livro discorre sobre a violência brutal empreendida contra as mulheres durante a transição do feudalismo para o capitalismo na Europa, e sustenta que a “caça às bruxas” relacionou-se diretamente com criação de um novo sistema econômico, forjado na escravidão, na colonização e na exploração e dominação do corpo e dos saberes femininos. O título da obra faz referência a duas personagens shakespearianas — Calibã e sua mãe, Sycorax, uma bruxa — para simbolizar a dimensão sexista e racista que o capital impõe a quem resiste à sua ordem.
Baseada em uma exaustiva pesquisa documental e iconográfica, e em farta bibliografia, Silvia Federici argumenta que o assassinato de centenas de milhares de bruxas foi, juntamente com a submissão dos povos africanos e americanos, um aspecto fundacional do sistema capitalista, uma vez que designou às mulheres o papel de “produtoras de mão de obra”, obrigando-as, pelo terror, a exercer gratuitamente os serviços domésticos necessários para sustentar os maridos e os filhos homens que seriam usados como força de trabalho do sistema nascente.
Nesse sentido, “Calibã e a bruxa” apresenta um contraponto ao pensamento de Karl Marx sobre a acumulação, afirmando que, em vez de se tratar de um aspecto precursor do capitalismo, a acumulação seria inerente a ele. O livro dialoga ainda com de Michel Foucault, a quem critica duramente por não haver levado em conta em sua “História da sexualidade” a campanha contra o corpo feminino e o extermínio de centenas de milhares de mulheres na fogueira.