Rosa Luxemburgo, uma discípula de Marx que ousava criticar Marx

Em homenagem ao nosso companheiro Paul Singer, falecido ontem, republicamos uma belíssima entrevista feita com ele, em 2008

Por Isabel Loureiro, Marcos Barbosa de Oliveira, Danilo César e Nicolau Bruno*

Isabel Loureiro – Nossa primeira pergunta é sobre a recepção de Rosa Luxemburgo no Brasil. Mário Pedrosa e você foram considerados os primeiros luxemburguistas brasileiros. Depois de vocês, veio Michael Löwy, são os três mais importantes. A primeira coisa que eu gostaria de saber é o que Rosa Luxemburgo significou para você e para sua geração de socialistas. E se você concorda com Michael Löwy, segundo o qual existia na cultura da esquerda brasileira uma corrente luxemburguista subterrânea que veio a desaguar no início do PT.

Paul Singer Foto: Gerhard Dilger
Paul Singer em 2015

Paul Singer – Eu tomei conhecimento que existia Rosa Luxemburgo, que foi uma figura importante do movimento operário, através de Mário Pedrosa, creio que nas páginas da Vanguarda Socialista, se bem me lembro. Isso é uma história de mais de sessenta anos atrás e minha memória já não é o que deveria ser. Mas acho que foi ele… A Vanguarda não era luxemburguista, tinha um espectro mais amplo, mas era, vamos dizer, socialista-marxista, bastante antistalinista, crítica também do trotskismo, do bolchevismo. É uma posição que realmente dava para justificar como luxemburguista.
O ponto que nos atraiu a todos foi o radicalismo de Rosa de um lado, e sua profunda rejeição à ditadura burocrática do outro. Que ficou evidente em um texto que ela nunca publicou, mas que depois Paul Levi divulgou. E transformou-se em uma das coisas mais importantes que ela fez. Nesse texto ela uniu uma posição socialista-democrática e uma crítica à Revolução Russa, já em 1918, praticamente nos primeiros meses da revolução – ela mostrou-se brilhante, porque tudo aquilo que ela apontou se agravou ao longo das décadas e deu hoje no que deu. Nós começamos a ler Rosa Luxemburgo, primeiro essa crítica à Revolução Russa, em seguida Reforma ou Revolução?, que foi traduzido para o português e que despertou nosso entusiasmo. Foi um dos livros de cabeceira, um dos livros fundamentais para a formação de certos militantes de esquerda.

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Paul Singer – uma lucidez solidária e futurante, por Ruy Namorado

*publicada em: Isabel Loureiro (org.), Socialismo ou barbárie – Rosa Luxemburgo no Brasil, Entrevistas com Paul Singer, Michael Löwy, Angela Mendes de Almeida, Isabel Loureiro, Gilmar Mauro e Paulo Arantes, 2ª edição, São Paulo, Fundação Rosa Luxemburgo, 2009.

Foto: Gerhard Dilger

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