Megaobra viária no Distrito Federal é tema de discussão em sala de aula. Estudantes foram convidados a refletir sobre direito à cidade a partir dos impactos do projeto e de imagens do livro CARtoons
Por Fundação Rosa Luxemburgo
A construção do Trevo de Triagem Norte (TTN), uma megaobra na região de acesso ao Plano Piloto de Brasília, virou assunto para discussão em sala de aula. Estudantes da Escola Classe 415 Norte, que fica em uma das áreas impactadas pelo projeto, foram convidados a refletir sobre direito à cidade a partir da nova estrutura viária, pensada para ampliar prioritariamente o fluxo de automóveis. O projeto vem sofrendo críticas por não considerar o deslocamento de usuários de transporte público, ciclistas e pedestres. Entre os grupos contrários estão organizações da sociedade civil, incluindo o Movimento Nossa Brasília e o grupo Repense Ponta Norte.
Entre as atividades planejadas para discussão de política rodoviarista e seus impactos estão visita de campo, rodas de conversa e uma análise dos desenhos do livro CARtoons – atropelando a ditadura do automóvel, de Andy Singer. O livro, publicado pelas editoras Autonomia Literária e Avocato com apoio da Fundação Rosa Luxemburgo, é um divertido convite à reflexão sobre a priorização dos deslocamentos por automóveis em detrimento de outros modais. O autor esteve no Brasil em março para divulgar o trabalho (leia mais a respeito e veja vídeo da visita). Nas mãos dos alunos, um exemplar da edição foi todo recortado e as imagens aproveitadas em cartazes:
A ideia de envolver os alunos no debate sobre mobilidade e direito à cidade foi da professora Ana Correia, que escreveu o seguinte relato a respeito da experiência:
«A escola onde trabalho recebeu a informação que o Departamento de Estradas de Rodagem do Distrito Federal (DER-DF) encaminharia uma equipe de Educação Ambiental para um trabalho com os estudantes do 4º e 5º ano. Seria uma contrapartida pelos desgastes ambientais causados pelas obras do TTN, que vêm congestionando e dificultando o trânsito que abraça a região da escola.
Para me auxiliar e ter dados bem precisos, fiz contato com amigos do grupo Repense Ponta Norte, que acompanham e questionam tais mudanças no espaço da obra em diversas instâncias. Fizemos uma parceria nas seguintes atividades: visita de campo no TTN; análise de gravuras sobre mobilidade urbana do livro CARtoons – atropelando a ditadura do automóvel, de Andy Singer, sugerido por uma amiga; e manejo na horta da escola, com uma dinâmica agroflorestal e ensinamentos sobre a importância do equilíbrio das espécies.
Na visita de campo, os estudantes puderam conhecer a obra, sua proposta de melhoria, seu impacto ambiental e tudo mais que poderia ser esclarecido. Agendei para isso um momento com um profissional em consultoria socioambiental, que pertence ao grupo envolvido na discussão sobre os impactos. A manhã foi dividida em dois momentos:
- 1- Roda de conversa, apreciação de cartazes explicativos e experimento científico sobre o TTN. Foi um momento para esclarecimentos sobre a construção dos viadutos previstos, discussão sobre ciclofaixas, calçadas para pedestres, comprometimento do lençol freático e de várzeas, e derrubada de árvores. Enfim, um momento para pensar as mudanças e a falta de respeito com os recursos naturais.
- 2- Caminhada pelo local para verificação dos fatos. De volta a escola, fizemos uma construção coletiva do momento da visita de campo.
O outro dia foi destinado para análise e estudo das imagens selecionadas do livro CARtoons e discussão sobre o que pudemos perceber com a aula de campo no TTN e as imagens do livro. A partir desse comparativo cada grupo recebeu uma gravura fez uma interpretação relacionando a imagem com as obras, para escreverem a conclusão dos estudos feitos.
Os alunos adoraram participar das duas atividades. Cada qual, com sua particularidade, ajudou a mostrar para os estudantes que a mobilidade urbana das cidades deveria garantir a livre circulação de pessoas entre diversas áreas, e que esse desafio permeia as grandes cidades mundo. Aumentar o número de veículos individuais causa um aumento exagerado do trânsito, dificultando a locomoção ao longo das áreas das grandes cidades, principalmente nas regiões que concentram a maior parte dos serviços e empregos.»