"A ENFF é um espaço que desmistifica muitas questões presentes na esquerda"

Por Maura Silva, da página do MST

Fundada em dezembro de 2009, a Associação dos Amigos da Escola Nacional Florestan Fernandes (AAENFF) segue com o objetivo de reunir pessoas que, afinadas com o processo pedagógico instituído na Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), possam contribuir com a efetivação de uma força transformadora que lute para construir uma sociedade mais justa e igualitária.
A construção da ENFF é tida como uma conquista histórica da classe trabalhadora. Inaugurada em janeiro de 2005, foi construída entre os anos de 2000 e 2005, graças ao trabalho voluntário de mais de mil trabalhadores Sem Terra e simpatizantes.

Os recursos para a sua construção foram obtidos com a venda de fotos de Sebastião Salgado e do livro Terra (fotos de Sebastião Salgado, texto de José Saramago e música de Chico Buarque) e mediante a contribuição de entidades da classe trabalhadora do Brasil, da América Latina e de várias partes do mundo.

Localizada em Guararema (a 70 km de São Paulo), a escola tem o objetivo de ser um espaço de formação política nas mais diversas áreas do conhecimento. Sua missão é a de atender às necessidades da formação de militantes de movimentos sociais e organizações que lutam por um mundo mais justo.

Em entrevista à Página do MST, Carlos Alberto Duarte, atual presidente da AAENFF, fala sobre a fundação e os anseios da entidade, que completará cinco anos em 2015.
A Associação dos Amigos da ENFF foi fundada com qual objetivo?
A associação nasceu em dezembro de 2009, mas iniciou seus trabalhos em fevereiro de 2010. Éramos professores, educadores e profissionais de outras áreas que, direta ou indiretamente, nutríamos e nutrimos certa afinidade com o processo educacional oferecido na ENFF.
A nossa ideia sempre foi oferecer um aparato financeiro para a manutenção da escola e, com isso, fazer com que o projeto pedagógico oferecido pela escola pudesse ser cada vez mais disseminado.
Inicialmente o grupo era pequeno, com o tempo o número de pessoas foi aumentando. A empatia, aceitação e a solidariedade nos surpreenderam desde o início, e isso nos ajudou a manter firme o objetivo inicial. Hoje temos cerca de 400 pessoas que contribuem voluntariamente com o projeto.

Quais as ferramentas de divulgação utilizadas pela Associação para conseguir parcerias e aumentar o número de contribuições?
Hoje usamos o site como a nossa maior ferramenta de divulgação (clique aqui para acessá-lo). Também estamos lançando uma campanha internacional de arrecadação, e aos poucos, com o esforço solidário de cada um, vamos ajudando na construção desse processo.
Temos procurado fazer várias campanhas, como a de arrecadação de livros, materiais para a reforma da casa onde são realizadas as cirandas, por exemplo, entre outros.
Eu costumo dizer que essa contribuição não é uma ajuda, é um trabalho de quem acredita na ENFF. O que estamos fazendo é um trabalho pelo bem comum. Não é ser um bom samaritanismo, é acreditar que algumas ações podem sim fazer a diferença no meio em que vivemos.
Qual o sentimento de contribuir com a escola e com um novo molde de projeto educacional?
Fazemos tudo por acreditar com o coração na ENFF. Hoje temos duas funcionárias assalariadas da associação, o restante são todos voluntários.
A maioria são pessoas físicas, ligadas ou interessadas pelo setor de educação. Ir até a escola e ver, por exemplo, em um curso sobre a América Latina, jovens interagindo, plantando e disseminando ideias é muito gratificante.
Lá, existe uma mística especial, as pessoas vêem aquilo e se perguntam como tudo se mantém. Respondemos que tudo é feito pelo coletivo. É a mudança do pensamento individual, e a ENFF ensina isso na prática; o trabalho coletivo tem o sentido pedagógico.
O nosso sistema básico de ensino preza pela individualidade, o aluno não é ensinado a pensar e a criar com o outro. O processo na ENFF é diferente. Saber que a mesma pessoa que acabou de ter uma aula sobre Marx é a mesma que vai lavar a louça do almoço ou ajudar no plantio da horta é ter a certeza de algo de diferente acontece por ali.
Quando o coletivo é priorizado todo o meio em que se vive torna-se melhor. E esse é o papel da associação. É uma experiência única, que deveria ser passada para todas as pessoas. Aquele é um espaço que desmistifica muitas questões presentes na esquerda política no Brasil.
Quais são os próximos objetivos da Associação?
Cinco anos é um começo, ainda temos muitas projeções, queremos chegar aos 1.000 sócios e aumentar cada vez mais o número de pessoas que possam ter acesso a tudo de bom que a ENFF oferece.
Manter o funcionamento permanente de uma estrutura coma a ENFF não é tarefa fácil. Os estudantes não pagam nada para estudar, ter alimentação, material didático, alojamento e etc.
No entanto, contribuem na manutenção da Escola por meio do trabalho diário, tanto nos serviços domésticos quanto na parte produtiva. Por isso, o nosso foco continua sendo a ajuda financeira.
Nós trabalhamos na divulgação das atividades por meio da imprensa nacional e internacional, além de fazer a manutenção dos associados, que inclui atualização sobre as atividades da Escola e sobre como o dinheiro arrecado é empregado.
A busca por novas parcerias também é constante. Acreditamos no que é feito e oferecido naquele espaço, e isso é o que nos move a trabalhar mais e mais.
Qual a maneira de contribuir com a Associação e com a ENFF?
Qualquer pessoa pode ser tornar associado da ENFF. Para isso é indispensável preencher a ficha de adesão com o compromisso de contribuir regularmente com um valor mínimo mensal de R$ 20,00, ou com contribuições solidárias de qualquer valor.
Os recursos angariados pela Associação serão diretamente destinados às atividades da Escola. Eventualmente, parte desses recursos poderá ser usada na organização de outras atividades (seminários, mostras de arte e fotografia, festivais de música e cinema), cujos recursos também serão destinados à ENFF.
 

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