A vida dos guarani mudou radicalmente depois da chegada dos europeus, mas pouca gente percebe que esse povo ainda está aqui, resistindo ao avanço da cultura dos juruá, preservando seus costumes e seu idioma e tentando viver segundo suas tradições ancestrais — inclusive dentro da maior metrópole brasileira
Hoje, os Guarani lutam pela conclusão da demarcação de suas terras na zona norte e na zona sul da cidade de São Paulo. A situação é caótica. Mais de dois mil indígenas vivem esmagados em pequenas áreas nas regiões do Jaraguá e de Parelheiros. Depois de muitos anos de paciência, os Guarani — povo tido como calmo e cauteloso — perceberam que precisavam mudar suas estratégias de luta. Iniciaram, assim, uma nova página em sua longa história de resistência, misturando a sabedoria dos mais velhos e os ensinamentos de Nhanderu Tenonde, sua maior divindade, com a energia e a valentia das lideranças mais jovens.
Para mostrar que existem, os Guarani irromperam o asfalto. Em setembro de 2013, pararam o trânsito da Rodovia dos Bandeirantes, estrada com o nome dos assassinos de índios que cortou ao meio a aldeia do Jaraguá — menor terra indígena do país. Na época, começava a tramitar pelo Congresso Nacional a PEC 215, Proposta de Emenda à Constituição que pretende dar aos parlamentares a palavra final sobre a demarcação de novas terras — o que contraria as reivindicações das etnias brasileiras.
Por isso, em outubro, os Guarani realizaram uma grande manifestação na Avenida Paulista, que se dirigiu ao Monumento às Bandeiras, uma enorme escultura que homenageia as expedições que rasgaram o Brasil matando e escravizando os índios. Com panos vermelhos, pintaram simbolicamente a escultura com a cor do sangue guarani que os bandeirantes outrora derramaram sobre essa terra.
Em abril de 2014, os Guarani ocuparam por 24 horas outro símbolo da colonização dos territórios paulistas: o Pateo do Collegio, uma das edificações mais antigas da cidade de São Paulo, erguida em 1554 pelos jesuítas que vieram cristianizar os povos nativos.
Mesmo depois de tantos protestos, os governantes continuaram ignorando, como sempre fizeram, as exigências dos Guarani. Então, eles se basearam em estudos aprovados pela Fundação Nacional do Índio (Funai) que estavam ganhando poeira nos gabinetes do Ministério da Justiça e reocuparam algumas de suas antigas áreas de uso, como uma terra que estava abandonada pelos posseiros juruána região de Parelheiros. Refundaram, assim, a aldeia Kalipety.
Foi com esse espírito de luta que um jovem xondaro guarani, Werá Jeguaká Mirim, abriu uma faixa pedindo “demarcação” durante a abertura da Copa do Mundo no estádio do Itaquerão, em junho de 2014.
A mensagem de resistência ecoou em todo o planeta, mas o reconhecimento oficial da recente onda de mobilizações guarani só aconteceu em maio de 2016, quando o ministro da Justiça Eugênio Aragão assinou uma Portaria Declaratória reconhecendo a terra indígena de Parelheiros — um passo muito importante no processo de demarcação.
O livro Xondaro retrata, em quadrinhos, um pouco dessa história.
Leia como foram os lançamentos na Terra Indígena Tenondé Porã e no centro de São Paulo.
SOBRE O AUTOR
Vitor Flynn Paciornik é quadrinista e ilustrador. Formado em Artes Plásticas e em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo, mantém desde 2013 o blogue autoral Quadrinhos B, dedicado a histórias curtas.
Xondaro
Autor: Vitor Flynn Paciornik
Projeto Gráfico: Bianca Oliveira
Consultoria: Lucas Keese dos Santos
Apresentação: Daniel Santini
Editora: Fundação Rosa Luxemburgo & Editora Elefante
Apoio: Comissão Guarani Yvyrupa
Páginas: 60
Publicação: Setembro 2016
ISBN: 978-85-68302-08-8
Dimensões: 18,2 x 25,5 cmFaça o download aqui.