As veias abertas da Volta Grande do Xingu

Novo estudo sintetiza informações sobre o maior projeto de mineração de ouro a céu aberto do Brasil, que quer operar a poucos quilômetros da hidrelétrica de Belo Monte, no Pará. De acordo com o levantamento, o empreendimento aprofundaria os problemas já causados pela usina

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Cachoeira do Jericoá, na Volta Grande, região onde Belo Sun pretende se instalar (Foto: Verena Glass)

Apresentação por Verena Glass 
Profundamente alterada e negativamente impactada pela hidrelétrica de Belo Monte, a Volta Grande do Xingu é palco de uma nova disputa. O trecho de um dos mais importantes rios da Amazônia no Sudoeste do Pará, região que, durante a construção da usina e agora com seu término, passou ao topo da lista dos índices de violência e desemprego no país, poderá sofrer um novo processo de profunda degradação se o maior empreendimento de mineração de ouro a céu aberto do Brasil, o projeto canadense Belo Sun, receber autorização para operar a poucos quilômetros de Belo Monte.
Esta é a conclusão do estudo As Veias abertas da Volta Grande do Xingu: Análise dos impactos da mineradora Belo Sun sobre a região afetada por Belo Monte, que dissecou dezenas de documentos, estudos técnicos e laudos produzidos pelo e sobre o empreendimento, além de entrevistar de comunitários impactados ao Ministério Público Federal e representantes da própria Belo Sun.
Produzida pela Fundação Rosa Luxemburgo em parceria com o Movimento Xingu Vivo para Sempre, a pesquisa, realizada pelo jornalista Marcel Gomes da ONG Repórter Brasil, buscou sintetizar as informações disponíveis sobre o projeto de mineração para facilitar a análise de seus impactos – incluindo os cumulativos em relação à Belo Monte – sobre as populações de garimpeiros, ribeirinhos e indígenas, além dos efeitos sobre o meio ambiente e da pressão sobre os municípios da região.
Nesse sentido, o estudo analisa a proposta de infraestrutura da mina (duas cavas de mais de 200 metros de profundidade, duas pilhas de estéril da mesma envergadura, uma barragem de rejeitos de 35,43 Mm3, etc), a grande demanda de uso de água no processo de operação (473,1 m3/h), os conflitos fundiários (sobreposição a assentamentos do Incra e Unidades de Conservação, pressão sobre terras de garimpeiros e comunitários, a proximidade com os territórios indígenas Juruna e Arara ), a pouca geração de empregos (cerca de 530 durante a operação), a baixa arrecadação de impostos e royalties, a provável atração massiva de trabalhadores e a consequente pressão sobre os equipamentos de educação, saúde e segurança da região, já colapsados em função de Belo Monte, os impactos sobre a fauna, os cursos d’água e a flora, as previsões de aumento do desmatamento, e os processos judiciais que, no momento, suspendem o licenciamento e paralisam o projeto.
A partir destes levantamentos, o estudo pretende auxiliar as comunidades da Volta Grande do Xingu, movimentos sociais e demais atores envolvidos no processo a ler e avaliar o projeto Belo Sun e a organizar resistências a seus impactos. De acordo com o Movimento Xingu Vivo para Sempre, principal organização de contestação à hidrelétrica de Belo Monte na região, a mina, se autorizada, aprofundará de forma brutal o processo de degradação social e ambiental que veio à reboque da usina. Táticas de desinformação, como anúncios de contratação e geração de emprego que mexem com as esperanças da população desocupada, promessas de desenvolvimento e mesmo diálogos truncados com as comunidades são comumente aplicadas pelos empreendedores, o que tem confundido a população extremamente fragilizada pela miséria gerada por Belo Monte, afirma o Movimento. Estes fatores reforçaram a demanda e a urgência por informações e materiais didáticos que pudessem ajudar no esclarecimento da população. Para isso, foi produzido também, como subproduto do estudo, um vídeo para o trabalho de formação com as comunidades:

 

Veja aqui o estudo completo (ponto de debate no. 16):

BS

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