Paul Singer: “Sem democracia, o socialismo é uma farsa”

Paul Singer e Isabel Loureiro resgatam críticas de Rosa Luxemburgo ao capitalismo e apontam caminhos possíveis para o socialismo
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Por Daniel Santini
O economista Paul Singer e a filosofa Isabel Loureiro debateram na noite desta sexta-feira, dia 27, a relação direta entre democracia e socialismo, resgatando ideias de Rosa Luxemburgo para falar da atual conjuntura do Brasil e do mundo. O encontro aconteceu durante o lançamento do livro “Rosa Luxemburgo ou o preço da liberdade”, no auditório da Fundação Rosa Luxemburgo, em São Paulo (a edição é aberta, clique aqui para baixar uma versão digital em PDF). O debate foi mediado por Gerhard Dilger, diretor do escritório da Fundação Rosa Luxemburgo no Brasil e Cone Sul, e autor do prefácio da edição.
“Sem democracia, o socialismo é uma farsa, uma triste farsa”, defendeu Singer. “O socialismo nada mais é do que levar a democracia às últimas consequências. É conseguir levar a democracia para economia, que é o que a economia solidária defende, mas também para a escola, para a família, para tudo”, afirmou o economista, que tem defendido a formação de cooperativas e modelos de autogestão de empresas por trabalhadores. Um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores e autor de mais de 25 livros, Singer é considerado um dos principais especialistas na obra de Rosa no Brasil. “O socialismo que queremos é incompatível com qualquer tipo de ditadura”.
Isabel Loureiro, que escreveu um capítulo da edição apresentada nesta sexta-feira, lembrou que “Rosa sempre foi uma defensora do socialismo democrático em qualquer circunstância” e destacou que o organizador da edição, Jörn Schütrumpf, detalha a atuação de Rosa neste sentido. “Ela faz uma defesa da democracia formal, não joga no lixo a democracia burguesa. São liberdades necessárias justamente para que os trabalhadores possam lutar para ampliar essa democracia social e econômica. As democracias que existem hoje são limitadas, aqueles que tem mais dinheiro podem mais do que os outros”.
“É incrível em pleno século XXI ainda termos que falar sobre isso. O socialismo tem que ser democrático e a democracia, para ser verdadeiramente democrática, tem que ser socialista”.
Limites do capitalismo
Singer lembrou que o pensamento de Rosa Luxemburgo é considerado referência até hoje por ela ter destacado que o mundo não poderia ser dividido somente entre capitalistas e trabalhadores assalariados, como resumido na obra de Karl Marx. “Há uma porção de classes que não são nem um, nem outro. Desde funcionários públicos, camponeses. Há setores que não são capitalistas, mas vivem no capitalismo”, aponta. “Ela resgata como populações tradicionais foram obrigadas a se moldar ao capitalismo. E isso é uma discussão bastante atual”.
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Questionado sobre a ofensiva contra direitos indígenas e de povos tradicionais no Congresso Nacional, Singer defendeu o conhecimento de quilombolas e indígenas e manifestou preocupação em relação ao parlamento. “A bancada ruralista que é o capitalismo agrário tem maioria na Câmara e o latifúndio capitalista começou uma guerra contra o Código Florestal e contra os indígenas.”
Isabel Loureiro lembrou que, ao analisar o capitalismo, Rosa Luxemburgo chegou a apontar que a necessidade de expansão do capitalismo era justamente uma de suas limitações, apresentando ideias que chegaram a ser criticadas na época. “Ela apontava que o capital não poderia acumular indefinidamente porque há limites geográficos. Ela questionou o que aconteceria quando a terra inteira tiver sido ocupada pelo capitalismo”. “Essa ideia pode ser atualizada de uma maneira ecológica. Os limites não são geográficos, mas ambientais. Temos a ideia hoje de que os recursos são limitados. E a partir dessa ideia dá para atualizar ecologicamente a ideia de que o capital não pode acumular indefinidamente. A Rosa sempre foi criticada por essa ideia”.
 
Foto: Laura Burzywoda
 

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