Um eterno 7×1 para além do futebol?

Livro do jornalista Christian Russau mostra como a presença das empresas alemãs no país aprofundou e perenizou as condições de vida desfavoráveis da maior parte da população brasileira

Se os 7×1 da semifinal da Copa do Mundo de 2014 foram um acontecimento inesperado no mundo do futebol em se tratando de Brasil e Alemanha, nas relações econômicas bilaterais a disparidade é a regra. E também dessa vez não são os europeus que estão em desvantagem. A balança comercial entre os dois países é uma goleada em favor dos germânicos. E o esquema do jogo é fartamente conhecido: enquanto Brasil entra com a compra das máquinas e produtos industrializados, exportamos matérias-primas de baixo valor agregado.
A atração do capital alemão para o Brasil sempre foi envolta em um discurso de prosperidade: as empresas aqui instaladas seriam sinônimos do progresso, gerando empregos e desenvolvimento para o país latino-americano.

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A versão alemã do livro, publicada em 2016

O livro: Empresas alemãs no Brasil: o 7×1 na economia, do jornalista alemão Christian Russau, que contará com eventos de lançamento no Rio de Janeiro e em São Paulo, revela outro aspecto dessa fotografia e narra o relacionamento entre os dois países a partir de uma história de superexploração do trabalho, violações de direitos, desrespeito aos direitos humanos, destruição ambiental e lucros estratosféricos.
Com uma linguagem clara e munido de farta documentação, Russau revela que empresas alemãs apoiaram e financiaram a prisão, o sequestro e a tortura de sindicalistas durante a ditadura; faturaram com os riscos decorrentes da construção de grandes barragens na Amazônia; beneficiaram-se da extração de minério de ferro no Norte do país; e colaboraram para a poluição do solo e dos rios, e para a intoxicação de trabalhadores, com suas indústrias pesadas.
Com a colaboração de parceiros, sindicatos, movimentos sociais e ONGs no Brasil e na Alemanha, Christian Russau vigia a ação das empresas alemãs e questiona diretamente seus executivos durante as assembleias de acionistas realizadas no país europeu. Sua investigação (versão alemã aqui) demonstra que, se as mazelas da “relação especial” entre Brasil e Alemanha se limitassem a uma goleada histórica no estádio do Mineirão, em Belo Horizonte, o cenário não seria tão trágico. A questão que este livro aborda, no entanto, é outra. Trata-se de expor as faces ocultas de uma relação bilateral vendida como passaporte para o progresso, mas que na realidade aprofunda e pereniza as condições de vida desfavoráveis da maior parte da população brasileira e de seus povos tradicionais.
Como o livro mostra nos primeiros sete capítulos, que são exemplares e de nenhuma forma exaustivos, as empresas estão “goleando” os direitos humanos e a natureza do país. É evidente que as reações “de baixo”, esboçadas em toda a obra, mas especialmente no último capítulo, ainda não são suficientes. E resta saber se teremos condições de virar o jogo.

São Paulo
14 de setembro – 19h
Empresas alemãs no Brasil: o caso Volkswagen 
com Christian Russau – autor do livro; Lúcio Bellentani – ex-dirigente sindical da Volkswagen e ex-preso político; e Gonzalo Berrón – Vigências. Mediação: Verena Glass – Fundação Rosa Luxemburgo
Ateliê do Gervásio – Rua Conselheiro Ramalho, 945 – Bela Vista/SP Ateliê do Gervásio – Rua Conselheiro Ramalho, 945 – Bela Vista/SP
Rio de Janeiro

19 de setembro – 18h30
Empresas alemãs no Brasil: o caso TKCSA
com Christian Russau – autor do livro; Diana Aguiar – FASE; Jaci do Nascimento – Liderança de Santa Cruz impactada pela TKCSA; e Sandra Quintela – Instituto PACS. Mediação: Gerhard Dilger – Fundação Rosa Luxemburgo
Auditório do Corecon – Av. Rio Branco, 109 – 19 andar – Centro/RJ
PACS: Por que lutamos contra a TKCSA e por um futuro legal

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